Friday, November 26, 2004

Dias Estranhos.

Os piores dias em Londres eram os dias de inverno. O céu cinza é da mesma cor das pessoas, mal humoradas e ranzinzas que andam pelas ruas como condenados no inferno. Os mendigos, nesse triste inverno, eram monstros ou anjos?
Nesses dias resolvi caminhar pela 26th street. Na recepção do hotel a Sra. Hardfinger com seu olhar mórbido e fundo me encarava desconfiada. Passei pela recepção e disse, o que foi velha, meu aluguel não ta pago? A Sra. Hardfinger era uma velha muito filha da puta, costumava comentar com os vizinhos que eu era um vagabundo drogado. Na 26th street caminhava rápido e tenso. Aqueles dias estranhos eram difíceis de passar, principalmente quando se esta morrendo de fome. Ao passar por uma casa ouvi vozes animadas, mulheres rindo, homens berrando. Curioso decidi subir as escadas. A porta estava entreaberta e quando coloquei a cabeça no vão a porta abriu e dei de cara com uma mulher, o seu perfume me causou náuseas, então ela me disse: o que queres aqui, não é lugar pra você. Me senti ofendido, afinal o que eu era? Um vagabundo drogado? Eu só quero beber algo, eu disse. Ela retrucou: vá procurar um pub, aqui é uma festa particular. Tive vontade de espancá-la ali mesmo na porta, piranha, com quem ela achava que estava falando? Quando dei as costas para descer as escadas, escutei um homem me chamando: hei você, não tem maconha não? Por estúpida sorte eu tinha um baseado no bolso e disse: tenho, mas não to vendendo. O homem bêbado então sorriu e disse, quem te disse que eu vou comprar, entra, e bebe umas cervejas. Ele parecia ser o dono da casa, passei pela porta e a mulher com cheiro de planta podre me olhou com desprezo... piranha. O lugar era bom, aconchegante, tinha vários sofás e um freezer no canto perto da porta do banheiro. Abri uma cerveja e fiquei observando as pessoas, pareciam ser ricas, meninas lindas, mulheres gostosas, estavam todas bêbadas. O som tocava algum tipo de punk rock, era horrível, como alguém pode ouvir isso, a luz era fraca e ninguém nem sequer me notou. Acendi o baseado e logo minha presença fizera valer, como vampiros todos chegaram perto e o primeiro a pegar o cigarro foi o homem bêbado da porta. Sabia que não iria ver o baseado de novo e fui até o banheiro, ao abrir tinha uma pessoa sentada na privada, uma mulher, estranha, magra e linda, ela disse: fecha essa porta porra, na vê que tem gente. Ela parecia estar sobre efeito de alguma droga, saiu do banheiro e passou sobre mim empurrando meu peito. E novamente o perfume me chamou a atenção, dessa vez o cheiro era bom, cheirava alguma coisa acida, eu fui atrás dela. Tome cuidado onde anda, eu podia ter caído, eu falei segurando seus braços. Que se dane, ela disse soltando os braços dos meus. Olha aqui garota, você não sabe com que você esta falando, meu nome é Hellfrick, sou um grande homem, coisa que aposto você nunca teve na sua cama. Senti os dedos magros e frios batendo em meu rosto. Você é engraçado, vá pegar mais cerveja ela mandou. Com o rosto ainda vermelho voltei com a cerveja e começamos a conversar. O perfume era tão interessante quanto ela, era designer de um grande escritório, pedi um emprego mas ela riu e disse que a empresa não tinha vagas para faxineiro. Não gostei da brincadeira. Conversamos e bebemos a noite inteira, ela era fascinante e ela me olhou nos olhos e me beijou. Ela me levou para um quarto no fundo da casa, fizemos sexo três vezes, ela era mesmo incrível. Já vestidos ela de pé me abraçou, olhou nos meus olhos e disse: você é um grande homem Hellfrick, eu tenho inveja de você. Naquele instante me ocorreu uma raiva, como alguém como ela poderia ter inveja de uma pessoa como eu. Descontrolado eu me afastei e dei um soco no nariz dela. Ela com o rosto ensangüentado berrava, “seu louco filho da puta, eu vou te matar.” Antes que ela se aproximasse alguns rapazes entraram no quarto, me deram uma surra e me arremessaram escada abaixo. Bastante ferido eu caminhei na 26th street pra casa. Os piores dias em Londres eram os dias de inverno.

0 Comments: