A cada ciclo uma morte. Um renascimento. E o que dói não é a morte certamente. É o processo. É o meio do caminho. Por mais que tenhamos uma alma pavimentada e sólida, a vida vai lascando devagarinho nossa existência, que de lasca em lasca, vai se transformando em algo novo. Como um quadro que acaba de ser repintado, nos olhamos nos espelho e nos vemos outro. Nem melhor, nem pior. Outro. Como conviver com este outro? Nostálgicos, temos saudade do antigo. Dormimos com a fé que o dia possa traze-lo de volta. Rezamos para sermos de novo aquele. Não seremos. Teremos que adaptar dia-a-dia com a alma remontada. Aceitaremos as condições. Não somos mais. Somos outro. Hellfrick
Thursday, November 20, 2014
Tuesday, December 27, 2011
Dizer
E essa cidade que só chove. Essa terra que não tem taxi nem metrô. Esse maldito lugar que eu conheci você. Lugar que você deixou depois que eu disse não. Quer dizer, eu nunca disse nada. Pelos meus olhos, você sempre soube que eu te amava. Mas eu nunca disse nada. Eu sabia, você sabia. Mas nenhuma palavra. Nem sim, nem não. E agora você foi embora. Foi pro lugar da onde eu vim. Eu te contei tantas historias sobre lá. Te ensinei um bocado de coisas. Falei da Augusta, do Bar B, sobre Jung, Campbell, enfim. Falei sobre tudo, menos sobre nós. Eu nunca estava preparado pra falar sobre nós. Eu nunca estive preparado pra nada. Sempre esperando a hora certa, o dia certo, a palavra certa. Mas nenhuma palavra é certa ou errada nessa hora. Basta dizer. Apenas dizer. E eu não disse.
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Thursday, September 22, 2011
Terça-Feira
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Thursday, June 16, 2011
O peso e a leveza da queda
Tomar consciência da sua partida foi como ser arremessado a
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Wednesday, March 16, 2011
Atrizes
O ultimo sinal do teatro toca e meu coração dispara como se fosse o próprio sino. Minhas mãos estão suadas. Seguro firme o apoio da poltrona como se fosse decolar. Consigo sentir a textura do metal enferrujado, que me provoca um gosto estranho na boca. O cheiro nauseante de mofo me leva a pensar que talvez fosse sensato abrir um buraco no teto para que o sol entre de vez
Postado por Diego Rezende às 2:40 PM 2 comentários
Wednesday, October 27, 2010
Hotel Bagdá
Dormi a primeira vez aqui há uns 02 anos quando precisei fazer uma pequena reforma no meu apartamento. Gostei tanto, me senti tão bem que decidi alugar por tempo indeterminado e hoje em dia toda terça-feira passo algumas horas neste hotel. Não que tenha alguma coisa especial, é um quarto comum, típico destes hotéis no centro: cama, uma mesinha, guarda-roupa velho e um banheiro com azulejos azuis. Com o passar do tempo fui trazendo livros, discos antigos e até algumas peças de roupa que só uso quando estou aqui. São coisas exclusivamente minhas. Objetos de uma época livre que a vida vai se encarregando de esconder em porões e fundos de armário. Aqui estas coisas ganham vida, parecem construir um cenário onde eu sou o único cenógrafo.
Hoje saí mais cedo do trabalho para comprar vinho. Aproveitei pra levar também duas taças. Geralmente passo na mercearia da esquina e compro algumas cervejas. Mas hoje é uma noite especial. Hoje pela primeira vez vou receber alguém. Esta noite o passado resolveu me visitar. Olhei no espelho e pensei em fazer a barba. Mas o que minha esposa vai pensar quando eu chegar em casa com a barba feita? Pra minha mulher digo que vou jogar poker nas terças-feiras. Não sei se ela entenderia a razão da existência deste quarto. Provavelmente pensaria que estou tendo um caso e mesmo que acreditasse que eu fico aqui sozinho, duvidaria certamente da minha saúde mental. É difícil de explicar para alguém casado contigo que isso tudo representa um espaço que nunca poderá ser ocupado por ninguém além de mim. Decidi que hoje vou me arriscar, vou fazer a porra da barba e foda-se. O que seria da vida sem estes pequenos riscos para exercitar nossa coragem?
Saio do banho. Sento na mesinha e encaro meu laptop. A página de Word aberta é um convite para mais uma tentativa de concluir o texto. Reescrevo a introdução e continuo lendo o primeiro parágrafo: “Eu preciso ser salvo. É isto. Esta é a única conclusão. Eu preciso que alguém ou coisa me resgate. É isso que eu descobri quando eu comecei a simplesmente me abandonar. Quando eu, de uma hora pra outra, parei de curtir. Deixei de escrever. Deixei de gostar de futebol aos sábados. Deixei de gostar dos meus tênis. Deixei de ler meus livros. Deixei de ouvir minhas músicas. Apenas deixei que a coisa toda ocorresse por cima do meu cadáver. E agora estou aqui deixado. Abandonado por tudo que eu deixei.” Termino de ler o parágrafo e apago todo o restante. Talvez o texto devesse ser só isso, sem complementos. Não existe um mínimo de palavras para um texto se tornar um texto de verdade. É apenas uma questão de aceitar que algumas coisas são o que são. Mas na maioria das vezes não conseguimos, nem sequer tentamos, viver com esta idéia. Talvez eu precise aceitar o fato de que eu nunca te esqueci. Talvez eu precise aceitar de uma vez por todas seu amor. Meu coração dispara. Ouço batidas na porta. Sei que é você. Hoje serei salvo.
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Monday, June 07, 2010
♫ ...mas é tão bom estar com você, juntinho do meu coração... ♫
Contei todas as batidas do meu coração pra ajudar o tempo passar até você chegar. A saudade alimenta o amor como se fosse um monstro faminto. E saudade é dor doida, tritura a alma e desregula o espírito. Quando você finalmente entrou pela porta, os segundos diminuíram a velocidade e em paz, um abraço eu te dei. O telefone tocou. Uma explosão de ciúme e desespero abalou toda a estrutura do tempo e a madrugada durou mil anos de purgatório. O alarme tocou. Senti no estômago uma fisgada de alívio. Apesar do sol, a manhã permaneceu gelada, mas a luz mostrou sua vocação natural de ser esperança.
Hellfrick
Postado por Diego Rezende às 4:47 PM 3 comentários