Friday, January 28, 2005


Republica de bananas. República do Lula! Posted by Hello

Tuesday, January 11, 2005

Nomade Mim

Eu mudo de lado
Vou para o outro
Durmo, acordo
Eu mudo de humor

Eu mudo as meias
Troco a cueca
Sinto meu cheiro
Eu mudo meu cheiro

Eu mudo o leite
Agora é chocolate
Quente, frio
Eu mudo minha fome

Eu mudo meus passos
Tic,tac
Troco bom dias
Eu mudo de humor

Eu mudo os problemas
Eles que me mudam
Troco as soluções
Eu mudo de trabalho

Eu mudo o caminho de casa
Troco rua por avenida
Sento na frente do ônibus
Eu mudo de casa

Eu mudo as idéias
Preto, branco
Ser, estar
Eu mudo meu mundo.


Monday, January 10, 2005


Hellfrick Posted by Hello

01 Posted by Hello

Thursday, January 06, 2005

Mulheres Centrais

Quinhentos e vinte reais era o preço do tênis Nike que eu olhava na vitrine da maior loja de calçados do shopping. Ai eu fiquei imaginando que nem com meu salário todo eu poderia comprar aquela peça cheia de molas. E seguido esse pensamento eu ainda fiquei me debatendo na frente da loja: mesmo se eu comprasse eu não teria uma calça quão bonita para acompanhar o pé, e ainda, com aquele investimento estratosférico eu não teria verba o suficiente para ir em lugares onde meu tênis seria reconhecido como uma legítima sensação da moda. Imaginem vocês, uma pessoa com os pés do Beckham com o corpo de um mendigo, seria um contraste engraçado, pensei, e logo comecei a me sentir melhor quando lembrei que eu nunca compraria nada daquela empresa que escraviza trabalhadores com salários ridículos em países subdesenvolvidos.

Tinha acabado de sair do cinema e caminhava entre as lojas olhando manequins e ofertas que tentam me agarrar com todo tipo de artefato promocional. Como em todos os lugares eu comecei a reparar as pessoas, eu sou o Hellfrick, escritor e conhecedor da alma humana e logo comecei minha análise comportamental. O estudo foi por água abaixo quando percebi que só olhava as mulheres e suas partes quando passavam por mim. Notei que quase todas eram lindas, maqueadas e com suas blusas Dolce & Gabana e suas bolsas Lui Viton (Luis Vitor as falsetas), eram sorridentes, falavam alto e queriam sempre chamar a atenção, e isso me interessou. Qual seria a razão pela qual mesmo sendo lindas, as patricinhas querem ser desesperadamente notadas? Simples. Porque naquele espaço consumista e artificial todas são iguais, aparentemente belas elas são como flores em floricultura, por mais cheirosas e maravilhosas elas sempre terão milhares de flores ao lado. Depois de 20 minutos passeando nenhuma mulher parecia ser mais ou menos interessante que as outras, tudo era tão certo, equilibrado e logo senti uma dor de cabeça avisando que eu tinha dormido 1 hora apenas na noite anterior e devia ir pra casa.

Tomando o café na padaria antes de ir trabalhar no dia posterior fui novamente mal-atendido pelo dono bigodudo. Desejei que o time da Portuguesa nunca mais voltasse a primeira divisão e dei uma risada sozinho quando lembrei que a seleção de Portugal tinha decidido a final da Eurocopa e perdera de 1 x 0 para a Grécia. Portugueses donos de padarias, filhos da puta, eu odeio vocês. Dei o segundo gole na xícara de café e começou a chover e fiquei levemente irritado por ter esquecido o acessório básico da cidade de São Paulo, um guarda-chuvas. Sem ter outra opção a não ser esperar a pequena tempestade diminuir, fiquei reparando as pessoas a passos largos caminharem pela calçada. Eu trabalho no centro da cidade, que digamos não tem uma estética interessante, as pixaçoes e os mendigos compõem um cenário de um filme no Bronx.
E foi justamente naquele lugar que eu enxerguei atravessando a rua, a mulher mais bonita dos últimos meses. Ela chegou até a calcada e entrou na mesma padaria onde eu estava. Fiquei olhando pra ela um bom tempo, era magra, tinha bundas e seios médios. Vestia um paletó decotado com uma saia que deixava as finas pernas descobertas por baixo e usava uma meia calça preta, e finalmente calçava um sapato preto bem engrachado.

Aquela mulher realmente me chamou a atenção e lembrei da moças do shopping. Elas eram completamente distantes, e confesso que prefiro a segunda. Ela apesar da chuva e do lugar, consegue ser bela. Não só pelo aspecto físico, mas principalmente pelo olhar preocupado com o trabalho e a cabeça erguida com o nariz inclinado num ângulo reto. Ela emanava garra, independência, tristeza e um grande amor e ao contrario das primeiras mulheres do shopping ela era uma flor que nasceu no cimento e isso a torna mais especial. Apelidei este tipo de fêmea de mulheres centrais e quase todos os dias vejo uma delas e a cada visão é uma paixão. Queria conhece-las, saber onde trabalham, se estudam, quais são os problemas. Mas esta espécie é solitária, caça seu próprio alimento e escolhem seus machos, dificilmente são escolhidas.

Provavelmente elas desejam ter a mesma vida daquelas do shopping, o mesmo carro e talvez até os mesmos namorados, mas por Deus continuem assim, alegrando minhas manhãs e a de tantos homens que rotineiramente cruzam apressados as ruas do centro da cidade em busca de um espacinho no trabalho, no dinheiro, na vida.