Tuesday, December 05, 2006

Viagem na (in)felicidade cotidianta - 03 - A Pior Metida da Minha Vida

Denis é um cara sério. Daqueles que sempre seguiu os protocolos óbvios da vida economicamente mediana. Concluiu o curso de advocacia numa faculdade particular graças ao enorme esforço da mãe, que pagava a mensalidade com a venda de produtos Natura. Aos 23 anos já estava trabalhando. Assistente do Juiz no Fórum da pacata cidade de Araras.

Bem... O rumo da vida de Denis, como dizia sua mãe às amigas, estava “encaminhado”: razoavelmente bonito, empregado e namorando “sério” há quase 03 anos a filha do Juiz – o mesmo da pacata cidade de Araras. O nome dela é Vanda. Não podemos dizer que era uma modelo, mas tinha sua graça. É verdade que era meio baixa e um pouco cheinha, e por isso vivia de dieta. A voz não ajudava muito também, que de tão aguda era capaz de irritar até o dalai-lama. É... Falando a verdade, é uma chata, quase insuportável. A não ser para a mãe de Denis, que achava Vanda a mulher certa para o filho casar. E Denis casou.

Denis sonhava em ir para São Paulo procurar um estágio num escritório da capital. Achava sua vida razoável demais e que devia arriscar, sair um pouco dos trilhos. Nos últimos tempos chegava de porre todo o fim de semana. O namoro ia de mal a pior, apesar de Vanda achar que era só uma fase. Ela insistia em oferecer amor e carinho, que na maioria das vezes era negado por Denis. Eles já não faziam sexo com tanta empolgação como antes, aliás, quase já não faziam. Quase.

Sexta feita, 29 de junho de 2006. Um dia decisivo na vida de Denis. Ele acordou decidido a largar tudo e ir pra Sampa. Já tinha ligado para um amigo da faculdade e tudo estava certo. Dia 05 de agosto Denis deveria estar às 8 horas no escritório da Av.Brigadeiro Luis Antonio, 406, sala 206 para iniciar o estágio na empresa do tio do Renatinho.

Denis estava feliz. Saiu com os amigos e tomou todas. Chegou em casa e encontrou Vanda na sala da sua casa. Estranhou a ausência dos pais, sobretudo da mãe, que costumeiramente assistia à novela naquele horário. O humor alterou-se com a presença da namorada, Denis percebeu que ela estava mais perfumada do que de costume. Mais perfumada e menos chata do que o normal, foi o que Denis concluiu depois de ter dado a pior metida da sua vida.

Eles subiram para o quarto e Vanda acariciava o pinto murcho de Denis. Ele estava tão feliz que não queria estragar a noite transando com a chata, que logo receberia a noticia da partida. Porem Vanda insistia. Beijava o pescoço, passava e enviava as mãos nas bolas de Denis, como nunca havia feito antes. Vanda era uma garota recatada, cheio de regras e nunca havia praticado sexo oral. Mas naquele dia ela não exitou. Meteu a boca no pau de Denis, que não resistiu. Pôs Vanda de quatro e iniciou o coito. Não demorou muito para ele ouvir os grunhidos de Vanda com sua maravilhosa voz. O som emitido por ela fez com que o “power” de Denis reduzisse uns 50%. Mas com o pinto quase mole ele continuou. Pensou em São Paulo, no escritório e na Brigadeiro Luis Antônio... perto da Augusta. E pra gozar ele lembrou da Cíntia, uma ex namorada, que ele ainda falava pelo telefone. Na cama, olhando para o teto, Denis agradeceu a Deus por nunca mais ter que comer Vanda. Mas Deus não disse “de nada”.

Denis não foi para São Paulo no dia 04 de agosto. Vanda que já tinha tomado o pé na bunda, apareceu na casa de Denis no dia 28 de julho do mesmo ano. Trazia com ela um exame de gravidez. Naquela altura Denis já havia brigado com a mãe, que estava junto ao Juiz (e pai de Vanda) olhando com uma puta expressão de cinismo. O olhar da mãe era um misto de reprovação e alegria. Aquela cara de quem tinha feito uma sacanagem das grandes.

Denis nunca soube se houve conspiração entre a mãe e Vanda contra ele naquela noite. O fato é que, depois de ter fumado um baseado gigante, Denis entrou na igreja Matriz no dia 07 de setembro de 2006. Era feriado e pouca gente apareceu para a cerimônia. Denis não fez questão de ficar para a festa. Ainda chapado, agradeceu a presença de todos e seguiu para a lua-de-mel em águas de Lindóia. Ele entrou no quarto do hotel, trancou-se no banheiro, tocou uma punheta e dormiu sentado na privada.

No dia 11 de setembro, ás 9 horas, Denis entrou mais uma vez pela porta do Fórum de Araras. E pôde ver pela TV do porteiro que o PCC havia explodido uma bomba dentro de uma agência bancaria que ficava na Av.Brigadeiro Luis Antonio, 400, ao lado do prédio do escritório de advocacia, que Denis teve a oportunidade de ver pela 1° e última vez. Ele sentou em sua mesa e ouviu o Juiz lhe chamar, quando pensava: foi a pior metida da minha vida.

Monday, December 04, 2006

A morte calça vermelho





Ontem eu vi minha femme fatale. Sei que era ela. Ela brotou no meu sono. Fora do sonho ela era linda; é linda. O contraste ente seu cabelo negro e sua pele extremamente clara era gritante. Com um batom excessivamente vermelho, seus lábios combinavam com os sapatos criando um conjunto que beirava o vulgar, mas que desfilava tranquilamente no terreno da sensualidade. Deus que mulher. Ela parecia não ser daquela época. Apaixonei-me. Tive vontade de correr atrás dela, sei lá, pra dizer algo ou só pra continuar a olhar. Mas o feitiço foi paralisante. Continuei ali, a mesa de um bar na Augusta, naquela sexta feira triste, carregada de indecisão. Decisões pra serem tomadas. Um dia de pouca coragem. O final de uma semana inútil no sentido mais claro da palavra. O inicio do fim. Do final de semana que mais uma vez eu teria que enfrentar. Lutar contra o tédio, a solidão e a pior de tudo: não ter a mínima idéia pra onde ir.

No sonho ela apareceu de novo. Estava velha e feia. Na janela de uma casa antiga, sorria sorrateiramente. Uma casa pequena, com janelas de madeira e tinta descascando. No alpendre um touro copulava com uma vaca, fazendo jus ao seu nome. Metia mesmo na vaca, sem dó. Lembro até do animal dando uma olhada para trás quando me viu. O ambiente todo emanava uma energia negativa e compreendi que se entrasse na casa seria morto. Como uma donzela a morte me paquerava com seu charme fatal. Apesar da curiosidade, fiquei parado em frente a casa olhando para a velha senhora. Estagnado, sem reação, a mesma paralisia. Percebi que a velha era a garota que fiquei encantado. Diabos, que sonho! Acordei com a conclusão que se tivesse ido atrás da bela garota da Augusta, eu não estaria vivo. Hellfrick... a morte anda te chamando a atenção meu velho.