Monday, September 04, 2006

Hellfrito...rs

bye bye pra você ordem, sua cretina

O mestre do caos, o grande filósofo grego Heráclito costumava dizer que, por trás de uma grande amontoados de atritos existe a mais bela ordem. Não é de se estranhar que com o caótico Hellfrick venha ocorrendo justamente o contrário.

Rastejando pelas ruas frias eu ansiava pelo caos. Sabia que ele iria se manifestar a qualquer momento. A ordem era insuportável naqueles dias de ansiedade. Eu tentava sem sucesso estimular a energia que crescia a cada dia com álcool e cigarros. Falava comigo mesmo pelas ruas: “É isso Hellfrick, atrás de toda a ordem, o caos sorrateiramente espera sua vez. É isso!” Eis a nova teoria do aprendiz da alma humana. Mas ele não vinha. A rotina, minha grande inimiga venceu mais um dia de batalha. Quando vai ser? Sabia que algo grandioso estava prestes a acontecer. Os padrões estavam estabelecidos e a cada nova lua poderia ser a maldita hora. Mas, diabos, ela não chegava! Comecei a ter flashes sobre minha morte. Facadas na barriga, tiros no peito e acidentes de carro alimentavam meus pesadelos cheios de terror sobre o fim. Seria finalmente o “the end” para Hellfrick? Como poderia meu Deus? Sem nenhuma linha sequer publicada num livro?

O medo estava morando em minha alma e sair de casa se tornou naqueles dias uma aventura. Aterrorizado demais eu acordei decidido que aquele seria um bom dia para eu me suicidar. Tomei o penúltimo ecstasy e não pude resistir jogando pra dentro o último também. Afinal de contas ninguém ira tomá-lo depois da minha morte. Caminhado rapidamente ao som de buzinas, ônibus e carros, senti a droga fazendo efeito. Os passos ficaram suaves, a respiração acelerada e meu coração batia como se soubesse do seu destino. Fui tomado por um vasto sentimento de alegria e comecei a rir de mim mesmo. “Hellfrick, você é um cretino mesmo, achou que ia ser fácil se matar? Você é um grande covarde, isso sim!”.

Eu continuava minha caminhada, quando o dia já era noite. As luzes dos semáforos exerciam sobre mim um fascínio inacreditável. Fiquei olhando o sinal de pedestres, abri e fechar milhões de vezes e fiquei com uma pulga atrás da orelha, depois que o homenzinho verde do sinal saiu andando pela rua. A madrugada estava gelada e não havia mais nenhuma alma viva naquele cruzamento. Senti o segundo “E” fervilhar em meu estômago. Palpitante, senti que meu coração não iria aguentar e lembrei dos pesadelos. Nada de facas ou revólveres, eu iria morrer ali, deitado naquela rua cheia de bosta de mendigo, ia morrer de frio com uma implosão no meu peito. E quando eu já entregava os pontos, o caos seguiu sua rotina. Com os olhos semi-abertos avistei de longe uma pessoa caminhando. Não demorei a perceber que a pessoa estava nua e que era uma mulher, uma bela mulher, japonesa, alta e com o corpo perfeitamente desenhado. Eu já não sentia mais frio, naquele momento a paz estava dominando meus sentimentos. A mulher se aproximou, me beijou a boca e continuo sua andança solitária por aquelas noites geladas de agosto. Decidi que não ia mais morrer. Voltei para casa e entrei as pressas para atender ao telefone. Desliguei o aparelho e sorri, a grande hora chegou, adeus ordem, seja bem vindo caos.