Thursday, June 23, 2005

Hellfrick Job

Estava duro, há nem me lembro quanto tempo. O aluguel atrasado não me permitia entrar pela porta da frente do hotel, passar pela recepção poderia ser suicídio. Tinha fome todos os dias e depois que meu vizinho me chamou pra roubar o caminhão de maçãs, esse era meu único alimento. Meu patrimônio aquela hora era uma garrafa de conhaque, que eu precisava cobrar do dono do bar da esquina por minha gloriosa vitória no truco. Resolvi que iria beber a noite inteira. Cheguei no bar e peguei minha garrafa, minha companhia naquela noite.

Já estava bêbado quando tropecei na cadeira da única mulher do local. Antes mesmo de eu pedir desculpas, escutei todo o tipo de xingamento. Vindo de uma mulher, achei aquilo lindo. Voltei e sentei na sua mesa. Ela me agrediu, me deu um tapa na carenagem tristonha de quem vos fala. Por que tanta violência com o único homem no mundo que quer te fuder neste momento, eu disse. Ela sorriu e pediu mais uma dose pra nos dois. Conversamos durante toda a noite. Falamos dos astros, dos mitos, da tv e acredite, falamos até sobre propaganda. A cada dose sua boca parecia mais próxima da minha, e eu bêbado, naquela altura só pensava em botar meu pau lá. De repente, não sei qual exatamente foi o momento ela me beijou, ou eu beijei ela, não lembro. Lembro apenas quando mordi seus lábios carnudos e ela gritou e me xingou novamente, me bateu e me beijou de novo. Saímos correndo do bar sem pagar a conta e fomos para casa. Transei com ela na cama limpa e cheirosa do seu quarto, e por um instante reparei que aquela puta bêbada parecia até ser rica. Perguntei onde ela trabalhava e disse que precisava de emprego. Ela me deu seu telefone e praticamente me expulsou da casa. Sai voando pelas ruas como uma pássaro, leve e orgulhoso de mim mesmo por fuder alguém.

Hellfrick, você é um cara muito estranho, mas vou te dar este emprego, falou a gerente de uma empresa de seguros. Pois é leitor, era o que a puta era...gerente, pra quem eu liguei no outro dia.

Vendedor. Nem escritor, nem pintor. Vendedor. Era isso, bati na porta do apartamento do Bandini, um garoto que escrevia livros, pedi umas roupas emprestadas e sai pelas ruas sujas da cidade do México a vender seguros. No começo foi difícil, mas logo peguei o jeito e comecei a me dar bem. Era fácil assustar as pessoas mostrando nossa sociedade decadente e a violência em volta. Desde então, a gerente, vamos chamar a puta assim, agora só falava comigo o necessário. Se mostrava poderosa, chefona, executiva. Eu gostava disso. Toda vez que ela me xingava e me chamava de incompetente eu ria com o canto da boca lembrando da foda que eu dei nela. Você é bom Hellfrick, eu pensava.

Eu fiquei bom em vender, trabalhava o dia todo e nem tocava mais na máquina de escrever. Fui ganhando dinheiro, paguei a dívida do aluguel, comprei roupas novas, e até adquiri um rabo de peixe vermelho calcinha. Aquilo sim que é carro. Com 10 meses na firma eu ganhei o prêmio de melhor vendedor. Pra comemorar a gerente reservou uma mesa só pra dois na cantina italiana perto do escritório. Conversamos sobre trabalho, carreira, e dinheiro. Ficamos bêbado e falamos novamente de astros, mitos e propaganda. Levei ela pra minha casa e ela, a chefe, a executiva que só sabia mandar me pediu pra bater. Comecei só na cara, quanto mais batia mais tesão tinha e eu não consegui parar até gozar com o rosto dela todo sangrando e ela me arranhando todo. Ela xingava e me batia e eu extasiado da transa só pensava em dormir.

Acordei todo arranhado no outro dia e com uma dor de cabeça que parecia ter um prego, preciso para de beber eu pensei. Olhei para minha maquina de escrever e em baixo dela tinha um bilhete. “Hellfrick, você é um cara muito estranho. Você está demitido. Ass. Sua gerente.” Joguei o papel pela janela, abri uma garrafa de vinho e comecei a escrever.