Tuesday, December 05, 2006

Viagem na (in)felicidade cotidianta - 03 - A Pior Metida da Minha Vida

Denis é um cara sério. Daqueles que sempre seguiu os protocolos óbvios da vida economicamente mediana. Concluiu o curso de advocacia numa faculdade particular graças ao enorme esforço da mãe, que pagava a mensalidade com a venda de produtos Natura. Aos 23 anos já estava trabalhando. Assistente do Juiz no Fórum da pacata cidade de Araras.

Bem... O rumo da vida de Denis, como dizia sua mãe às amigas, estava “encaminhado”: razoavelmente bonito, empregado e namorando “sério” há quase 03 anos a filha do Juiz – o mesmo da pacata cidade de Araras. O nome dela é Vanda. Não podemos dizer que era uma modelo, mas tinha sua graça. É verdade que era meio baixa e um pouco cheinha, e por isso vivia de dieta. A voz não ajudava muito também, que de tão aguda era capaz de irritar até o dalai-lama. É... Falando a verdade, é uma chata, quase insuportável. A não ser para a mãe de Denis, que achava Vanda a mulher certa para o filho casar. E Denis casou.

Denis sonhava em ir para São Paulo procurar um estágio num escritório da capital. Achava sua vida razoável demais e que devia arriscar, sair um pouco dos trilhos. Nos últimos tempos chegava de porre todo o fim de semana. O namoro ia de mal a pior, apesar de Vanda achar que era só uma fase. Ela insistia em oferecer amor e carinho, que na maioria das vezes era negado por Denis. Eles já não faziam sexo com tanta empolgação como antes, aliás, quase já não faziam. Quase.

Sexta feita, 29 de junho de 2006. Um dia decisivo na vida de Denis. Ele acordou decidido a largar tudo e ir pra Sampa. Já tinha ligado para um amigo da faculdade e tudo estava certo. Dia 05 de agosto Denis deveria estar às 8 horas no escritório da Av.Brigadeiro Luis Antonio, 406, sala 206 para iniciar o estágio na empresa do tio do Renatinho.

Denis estava feliz. Saiu com os amigos e tomou todas. Chegou em casa e encontrou Vanda na sala da sua casa. Estranhou a ausência dos pais, sobretudo da mãe, que costumeiramente assistia à novela naquele horário. O humor alterou-se com a presença da namorada, Denis percebeu que ela estava mais perfumada do que de costume. Mais perfumada e menos chata do que o normal, foi o que Denis concluiu depois de ter dado a pior metida da sua vida.

Eles subiram para o quarto e Vanda acariciava o pinto murcho de Denis. Ele estava tão feliz que não queria estragar a noite transando com a chata, que logo receberia a noticia da partida. Porem Vanda insistia. Beijava o pescoço, passava e enviava as mãos nas bolas de Denis, como nunca havia feito antes. Vanda era uma garota recatada, cheio de regras e nunca havia praticado sexo oral. Mas naquele dia ela não exitou. Meteu a boca no pau de Denis, que não resistiu. Pôs Vanda de quatro e iniciou o coito. Não demorou muito para ele ouvir os grunhidos de Vanda com sua maravilhosa voz. O som emitido por ela fez com que o “power” de Denis reduzisse uns 50%. Mas com o pinto quase mole ele continuou. Pensou em São Paulo, no escritório e na Brigadeiro Luis Antônio... perto da Augusta. E pra gozar ele lembrou da Cíntia, uma ex namorada, que ele ainda falava pelo telefone. Na cama, olhando para o teto, Denis agradeceu a Deus por nunca mais ter que comer Vanda. Mas Deus não disse “de nada”.

Denis não foi para São Paulo no dia 04 de agosto. Vanda que já tinha tomado o pé na bunda, apareceu na casa de Denis no dia 28 de julho do mesmo ano. Trazia com ela um exame de gravidez. Naquela altura Denis já havia brigado com a mãe, que estava junto ao Juiz (e pai de Vanda) olhando com uma puta expressão de cinismo. O olhar da mãe era um misto de reprovação e alegria. Aquela cara de quem tinha feito uma sacanagem das grandes.

Denis nunca soube se houve conspiração entre a mãe e Vanda contra ele naquela noite. O fato é que, depois de ter fumado um baseado gigante, Denis entrou na igreja Matriz no dia 07 de setembro de 2006. Era feriado e pouca gente apareceu para a cerimônia. Denis não fez questão de ficar para a festa. Ainda chapado, agradeceu a presença de todos e seguiu para a lua-de-mel em águas de Lindóia. Ele entrou no quarto do hotel, trancou-se no banheiro, tocou uma punheta e dormiu sentado na privada.

No dia 11 de setembro, ás 9 horas, Denis entrou mais uma vez pela porta do Fórum de Araras. E pôde ver pela TV do porteiro que o PCC havia explodido uma bomba dentro de uma agência bancaria que ficava na Av.Brigadeiro Luis Antonio, 400, ao lado do prédio do escritório de advocacia, que Denis teve a oportunidade de ver pela 1° e última vez. Ele sentou em sua mesa e ouviu o Juiz lhe chamar, quando pensava: foi a pior metida da minha vida.

Monday, December 04, 2006

A morte calça vermelho





Ontem eu vi minha femme fatale. Sei que era ela. Ela brotou no meu sono. Fora do sonho ela era linda; é linda. O contraste ente seu cabelo negro e sua pele extremamente clara era gritante. Com um batom excessivamente vermelho, seus lábios combinavam com os sapatos criando um conjunto que beirava o vulgar, mas que desfilava tranquilamente no terreno da sensualidade. Deus que mulher. Ela parecia não ser daquela época. Apaixonei-me. Tive vontade de correr atrás dela, sei lá, pra dizer algo ou só pra continuar a olhar. Mas o feitiço foi paralisante. Continuei ali, a mesa de um bar na Augusta, naquela sexta feira triste, carregada de indecisão. Decisões pra serem tomadas. Um dia de pouca coragem. O final de uma semana inútil no sentido mais claro da palavra. O inicio do fim. Do final de semana que mais uma vez eu teria que enfrentar. Lutar contra o tédio, a solidão e a pior de tudo: não ter a mínima idéia pra onde ir.

No sonho ela apareceu de novo. Estava velha e feia. Na janela de uma casa antiga, sorria sorrateiramente. Uma casa pequena, com janelas de madeira e tinta descascando. No alpendre um touro copulava com uma vaca, fazendo jus ao seu nome. Metia mesmo na vaca, sem dó. Lembro até do animal dando uma olhada para trás quando me viu. O ambiente todo emanava uma energia negativa e compreendi que se entrasse na casa seria morto. Como uma donzela a morte me paquerava com seu charme fatal. Apesar da curiosidade, fiquei parado em frente a casa olhando para a velha senhora. Estagnado, sem reação, a mesma paralisia. Percebi que a velha era a garota que fiquei encantado. Diabos, que sonho! Acordei com a conclusão que se tivesse ido atrás da bela garota da Augusta, eu não estaria vivo. Hellfrick... a morte anda te chamando a atenção meu velho.

Sunday, November 12, 2006

Viagem na (in)felicidade cotidianta - 02

Era mais uma sexta-feira. Fazia muito calor naquele verão e as chuvas inundavam São Paulo. O cheiro dentro do Metrô era insuportável. Pessoas molhadas de chuva e suor resultavam num odor que me fazia lembrar do galinheiro que um tio falecido tinha na sua casa. Eu sempre achava um absurdo o velho morar num muquifo e ainda ter um galinheiro. O lugar mal dava pra ele, mas o teimoso insistia em dar abrigo às aves. Ele era uma pessoa sozinha e morreu um mês depois que foi obrigado a soltar as galinhas pela policia, que cansou de receber reclamações dos vizinhos que não suportavam o cheiro de merda galinácea. Só depois de sua morte que compreendi o galinheiro na casa.

Mas voltemos ao Metrô e aquela estranha sexta feira meu caro leitor, afinal a historia não é sobre merdas ou galinhas.

Como de costume o vagão estava lotado. A única coisa que eu queria era um banco pra sentar e tirar um cochilo. Estava exausto. Trabalhei a semana toda até de madrugada para finalizar uma campanha de um cliente novo da agência, que vai ter até filme no fantástico. Semana difícil, mas eu me sentia feliz de ter acabado.

Fazendo força para manter meus olhos abertos, percebi uma bela duma morena sentada no banco na minha frente. Eu em pé, vendo ela de cima, fazia com que seus peitos ficassem ainda maiores. Ela vestia jeans e uma blusa decotadíssima vermelha. Tinha tomado chuva, já que sua pele e o cabelo ainda estavam molhados. Não era muito bonita de rosto, tinha cara de “moça de telemarketing”. Pareceu-me ter hábitos grossos. Digo isso porque pude vê-la se assoprando para refrescar seus próprios peitos. Achei grotesco, mas gostei de ter quase visto seus seios.

O fato é que o sono foi tomando conta de mim e eu já estava quase desistindo de ficar acordado. Aquele calor misturado com sono e mulheres (e infelizmente homens também) esfregando suas bundas no meu pau naquele vagão lotado, fizeram com que meu membro ficasse ereto. Posso dizer que era uma ereção parecida com a que nós homens acordamos quase todos os dias. (Alguém sabe por que o sono faz meu pau subir?) Agora eu tinha mais um problema: além da sonolência, o volume na minha calça. E a peituda na minha frente só fazia piorar a situação.

A morena não tinha percebido minha presença até notar a protuberância na frente da minha calça. Senti que ela ficou sem graça, mas deu um sorriso meio inconformada com tamanho absurdo. Mas não tinha jeito, estava duro mesmo e eu não podia fazer absolutamente nada.

Meu deus, que peitos maravilhosos, dizia meu inconsciente afogando os últimos segundos de lucidez. Não demorou muito e comecei a viajar naqueles seios molhados. A cada gota que escorria pro meio deles eu me esforçava pra me manter acordado. Mas o sono era forte e prestes a me vencer... E venceu.

Agora eu já estava cochilando e sonhando advinha com o que. Imagine o volume das calças, meu digno leitor. Que sonho maravilhoso: eu estava deitado no colo da morena que estava nua acariciando meus cabelos com seus dedos e unhas pintadas de vermelho. Se eu pudesse continuaria sonhando toda a viagem. Mas minha prazerosa soneca foi interrompida por um estridente grito de “taraaaado”, me acordando de um sonho e me jogando no meio de um terrível pesadelo. Quando abri os olhos, estava eu, com a cara no meio dos peitos da gostosa, que não parava de gritar. Como gritava alto aquela baiana. Os fortoes de plantão não vacilaram em partir para cima com socos e pontapés. Fui jogado no corredor do vagão a meio a vaias de todos que presenciaram a cena, aquilo que mais parecia um bizerro indo ao encontro de seu leitinho. No meio da confusão tive tempo ainda de pensar que não gostava de leite. Eu tentava defender o rosto, mas os chutes vinham de todo o lugar e eu definitivamente estava sendo espancado. Não dava nem pra ver quem participava do mutirão para a minha morte, homens, mulheres e claro, os travecos, legítimos defensores das causas feministas. Filhos da puta, odeio travecos.

Nunca uma estação demorou tanto pra chegar e quando a porta abriu eu fui quase espelido pelos heróicos musculosos defensores da ética. Ética o caralho! Queriam causar boa impressão para a morena. Fortões de academia, odeio vocês também.

Não sei bem o que aconteceu, até porque eu, acreditem, estava realmente dormindo. Mas concluí que cochilando em pé eu acabei soltando a mão que estava me segurando, caindo com a cara no meio dos melões daquela mulher. Eu compreendo a reação dela, já que sonhando eu não quis acordar e devo ter ficado ainda alguns segundo com a boca encostado na sua pele molhada. Não é difícil de concluir que ela achou que eu era um maníaco ou coisa do tipo.

Fora da estação eu procurava uma farmácia que pudesse me vender os curativos, já que ganhei alguns hematomas por todo o corpo. Mas não pude deixar de sorrir, que apesar da surra e de tudo o mais, meu pinto ainda estava totalmente ereto. Desisti de ir pra farmácia, fui pra casa tomar um banho e finalmente dormir.

Monday, October 16, 2006

NOTÍCIA EXTRAORDINARIAMENTE HELLFRICKIANA

Como alguns devem saber estou prestes a sair dos becos obscuros dos blogs e levar minha caótica escrita para um livro. Aguardo ansiosamente pelo resultado do concurso público do estado de São Paulo que vai premiar o melhor projeto de livro de conto & crônica. Como sei que a torcida é pequena, tendo em vista o número de acesso, convoquem seus amigos para torcerem também.

Abs,

Hellfrick

Viagem na (in)felicidade cotidiana - cap.01

Sergio era um cara só. Ele gostava de ser só.

Trabalhava como programador em uma dessas empresas de software. E desde que se mudou para São Paulo, há uns três anos, só pensava em trabalhar, o que lhe rendeu promoções e bonificações. Era o que mais trabalhava no departamento de “programação sistemática de dados”.

Sergio não tinha amigos. Ele não desejava mesmo te-los.

Tomava cerveja de vez em quando com os “colegas” do trabalho, mas não se envolvia o suficiente com nenhum deles para que possamos considerar uma amizade. Sergio não gostava muito de falar e por isso as pessoas achavam que era tímido, ou coisa do tipo, mas a verdade era que ele não tinha apreço algum pelo diálogo.

Na vida amorosa, um fato merece destaque: de tanto ELA insistir, Sergio acabou saindo pra jantar com a recepcionista da empresa. Ela achava que ele era um bom homem pra se casar, um “homem sério”. Afinal ele ganhava bem e poderia mesmo dar um bom futuro para sua mulher. Saíram mais algumas vezes e logo estavam namorando. É difícil dizer que Sergio gostava dela, ele simplesmente a aceitava e eles obviamente não conversavam muito sobre sua relação. Meio desanimados, eles faziam amor aos sábados, quando dormiam juntos na casa do “programador sistemático de dados”. Para Cristina estava bem assim, o importante para ela era que tinha um bom partido em mãos.

O fato era que Sergio não tinha gosto pela companhia humana. Irritava-se fácil com as pessoas e varias vezes pedia para Cristina ir dormir na sua própria casa porque queria ficar sozinho. Preferia ficar com seus pensamentos, e suas idéias em paz, como ele mesmo dizia. Era uma espécie de fobia, um tipo de intolerância à vida social.

Eram raros os dias em que Sergio se demonstrava satisfeito com a vida, mas quando ficou sabendo que poderia trabalhar em casa, sorriu como há muito não fazia. Uma multinacional comprou a empresa e para cortar custos sugeriu que seus programadores trabalhassem em casa. Eles teriam apenas que estar on-line para que transmitissem os relatórios e os dados diariamente. Os que quisessem poderiam continuar trabalhando no escritório, mas claro que Sergio, no outro dia mesmo, já estava em casa em seu computador longe de qualquer ser vivo.

Acordava cedo e até conseguiu criar uma rotina. Saia as vezes de casa apenas pra comer, o que ele odiava fazer. Ele pediu que todas as suas contas, luz, água, telefone, gás, fossem debitadas automaticamente de sua conta corrente para que não precisasse ir mais ao banco. Começou a fazer compras pela internet, o que lhe poupou sair de casa para se alimentar. Como não ia mais ao escritório deixou de ver Cristina, que ficou sem saber o que aconteceu, quando ele mandou um e-mail dizendo que estava tudo acabado.

No terceiro mês ele já conseguia ficar 10 dias sem sair de casa. Muito raramente ia até a banca comprar alguma revista e tomar um pouco de sol. Hábito que foi também abandonado no quarto mês. Quando sentia a necessidade de transar Sergio se masturbava mesmo, sem cerimônia. Pra falar a verdade ele sempre teve mais prazer com suas mãos do que Cristina. Em não poucas vezes ele “tocava uma” após o coito com a antiga namorada pra se satisfazer.

Ele ficou todos os dias do quinto mês sem sair de casa e a única pessoa com a qual ele tinha contato era a faxineira que, por sinal, odiava ter que limpar aquele apartamento cheio de restos de comida e roupas jogadas por todos os cantos. A empregada tinha o péssimo hábito (para Sergio) de ficar fazendo perguntas a respeito da vida do pobre coitado que só queria não falar. No sétimo mês ele mandou a faxineira embora e decidiu que ele mesmo iria arrumar sua casa. Foi neste mesmo período que pediu para a empresa de telefonia cortar seu telefone, ele não precisava, já que poderia comunicar-se através da internet. Alias, falando em internet, Sergio chegou a se aventurar em salas de bate-papo, mas acreditem, nem mesmo on-line ele tinha gosto pelas pessoas.

Sergio alcançou sua vitória, tornar-se o humano mais sozinho da face da terra. Ele não ligava para isso.

O destino então decidiu mudar a sua pacata sobrevivência. Num dia comum, nosso solitário personagem, acordou, como de costume, às 8 horas, tomou café e se sentou ao computador. Achou estranho quando interfonaram da recepção do prédio e não disseram nada, mas achou mais esquisito ainda quando tentou dizer alguma coisa ao porteiro e não conseguiu. As palavras lhe faltaram. Não ligou muito, achou que era muito cedo e ainda não tinha acordado muito bem. Até abriu as janelas para que ele despertasse com a luz que já era pouco naquele apartamento fedendo a mofo. Tinha acabado de sentar ao computador para trabalhar, quando ouviu baterem na porta. Nesta altura ele já adquirira um misto de medo e raiva das pessoas. Não lembrava muito bem como era conversar com alguém, perguntar, responder, não saberia como usar os pronomes de tratamento. Esperou mais um pouco, no entanto a pessoa insistia em bater e cada vez mais forte. Muito irritado, Sergio levantou com um golpe na mesa do computador e abriu a porta. Foi bruscamente jogado para dentro do seu apartamento por dois homens encapuzados, que anunciaram o assalto. Um deles tinha uma arma (um três oitão bem antigo) e perguntava a Sergio do dinheiro enquanto o outro jogava tudo que encontrava de valor dentro da mochila. O assaltante armado e agora totalmente impaciente, pois Sergio não respondia, começou a chutá-lo no chão. Sergio fazia compras apenas pela internet e não era provido de muito dinheiro, mas ainda sim tinha um bocado guardado debaixo do colchão. Mas Sergio estava impossibilitado de dizer onde estava a grana, tinha perdido uma capacidade básica a nós humanos. Ele desaprendeu a falar. Tanto tempo conversando consigo apenas por meio dos pensamentos e comunicando somente através de e-mails e mensagens instantâneas, fizeram com que atrofiasse todos os músculos e nervos envolvidos no processo da fala. Sem conseguir falar, Sergio ficava gesticulando, porém não conseguia conter a irritação do assaltante. Foi quando Sergio tentou levantar para indicar onde estava o dinheiro, que foi atingido com um pancada na cabeça. O assaltante se assustou e já bastante nervoso deu uma coronhada na cabeça de Sergio.

Depois vocês podem imaginar o que se passou: policia, ambulância, hospital, etc. A família de Sergio, que era do Pará foi avisada de que ele tinha entrado em coma por tempo indeterminado e só poderia respirar com ajuda de aparelhos.

A vida realmente aprontou com Sergio. Ele adorou.

As enfermeiras do hospital dizem que as vezes ele parece sorrir, o que é de se estranhar, já que ele nunca fora assim digamos, feliz. Apesar de estar em coma, eu tomei a liberdade de concluir que Sergio realmente está satisfeito agora. Dá pra ver em seus olhos, ele finalmente conseguiu ficar em paz num quarto de hospital. Sua família, dificilmente vai visitá-lo e a presença das enfermeiras e médicos quase sempre é silenciosa. Ele tem apenas, e isso basta meu caro leitor, seus pensamentos para resto da vida. Não tem que expressa-los, dizê-los, apenas pensá-los. Ele poderia enfim ficar totalmente a sós.

Monday, September 04, 2006

Hellfrito...rs

bye bye pra você ordem, sua cretina

O mestre do caos, o grande filósofo grego Heráclito costumava dizer que, por trás de uma grande amontoados de atritos existe a mais bela ordem. Não é de se estranhar que com o caótico Hellfrick venha ocorrendo justamente o contrário.

Rastejando pelas ruas frias eu ansiava pelo caos. Sabia que ele iria se manifestar a qualquer momento. A ordem era insuportável naqueles dias de ansiedade. Eu tentava sem sucesso estimular a energia que crescia a cada dia com álcool e cigarros. Falava comigo mesmo pelas ruas: “É isso Hellfrick, atrás de toda a ordem, o caos sorrateiramente espera sua vez. É isso!” Eis a nova teoria do aprendiz da alma humana. Mas ele não vinha. A rotina, minha grande inimiga venceu mais um dia de batalha. Quando vai ser? Sabia que algo grandioso estava prestes a acontecer. Os padrões estavam estabelecidos e a cada nova lua poderia ser a maldita hora. Mas, diabos, ela não chegava! Comecei a ter flashes sobre minha morte. Facadas na barriga, tiros no peito e acidentes de carro alimentavam meus pesadelos cheios de terror sobre o fim. Seria finalmente o “the end” para Hellfrick? Como poderia meu Deus? Sem nenhuma linha sequer publicada num livro?

O medo estava morando em minha alma e sair de casa se tornou naqueles dias uma aventura. Aterrorizado demais eu acordei decidido que aquele seria um bom dia para eu me suicidar. Tomei o penúltimo ecstasy e não pude resistir jogando pra dentro o último também. Afinal de contas ninguém ira tomá-lo depois da minha morte. Caminhado rapidamente ao som de buzinas, ônibus e carros, senti a droga fazendo efeito. Os passos ficaram suaves, a respiração acelerada e meu coração batia como se soubesse do seu destino. Fui tomado por um vasto sentimento de alegria e comecei a rir de mim mesmo. “Hellfrick, você é um cretino mesmo, achou que ia ser fácil se matar? Você é um grande covarde, isso sim!”.

Eu continuava minha caminhada, quando o dia já era noite. As luzes dos semáforos exerciam sobre mim um fascínio inacreditável. Fiquei olhando o sinal de pedestres, abri e fechar milhões de vezes e fiquei com uma pulga atrás da orelha, depois que o homenzinho verde do sinal saiu andando pela rua. A madrugada estava gelada e não havia mais nenhuma alma viva naquele cruzamento. Senti o segundo “E” fervilhar em meu estômago. Palpitante, senti que meu coração não iria aguentar e lembrei dos pesadelos. Nada de facas ou revólveres, eu iria morrer ali, deitado naquela rua cheia de bosta de mendigo, ia morrer de frio com uma implosão no meu peito. E quando eu já entregava os pontos, o caos seguiu sua rotina. Com os olhos semi-abertos avistei de longe uma pessoa caminhando. Não demorei a perceber que a pessoa estava nua e que era uma mulher, uma bela mulher, japonesa, alta e com o corpo perfeitamente desenhado. Eu já não sentia mais frio, naquele momento a paz estava dominando meus sentimentos. A mulher se aproximou, me beijou a boca e continuo sua andança solitária por aquelas noites geladas de agosto. Decidi que não ia mais morrer. Voltei para casa e entrei as pressas para atender ao telefone. Desliguei o aparelho e sorri, a grande hora chegou, adeus ordem, seja bem vindo caos.

Tuesday, May 23, 2006

Soul it is: C.A.O.S

se eu soubesse que ia doer tanto,
não desligaria o telefone
mas o que eu posso dizer?
o destino não respeita as palavras.


o caos sempre segue sua rotina
o preço da inércia é alto
talvez alto demais desta vez
e eu amanhã acordo cedo...

não posso nem pensar em voltar atrás,
nem conseguiria
"ter feito" é mais leve do que o oposto
pesado mesmo será a mochila do retorno.


eu sabia sim o tamanho da dor,
foi por isso que eu pus no gancho
paguei mais uma vez pra ver
afinal eu já conhecia o valor.

P.S.: apesar das palavras estarem com ciúmes, minhas percepções também serão expostas em fotografias. Quando a exposição virtual começar avisarei a todos. Grande abraço, Hellfrick.

Thursday, April 27, 2006

Welcome

Agora que conhece este azedo lar, não precisa dizer que gostou ou que esperava coisa pior. Sua compaixão poderá nos enojar. Sinta a marginalidade presente neste espaço e não tente encontrar razões porque viemos parar aqui, nós simplesmente vivemos aqui.

Não vai adiantar procurar algo que possa motivar nossa sobrevivência neste lugar e nem pense em perguntar porque insistimos aqui. Os motivos são complexos por demais para seu espírito leviano.

Não espere boa comida e muito menos um drink. O máximo que você vai encontrar vai ser um bife seco numa panela preta de gordura e se der sorte, um trago de presidente.
Se tua alma burguesa e fresca, típica daqueles que não tem coragem de colocar a cabeça fora da janela do trem da vida, gritar por socorro e seu estômago embrulhar ao entrar pela nossa porta, terei o prazer de te chutar. Porque eu sei seu carcamano, sua límpida máscara esconde um espírito de porco.

Agora meu caro amigo, se sua percepção for além das coisas físicas, e você tiver a capacidade, coisa que eu duvido, de captar o fluxo deste doce lar, sugiro você sentar. Vou ter o prazer de lhe servir, não em pratos rasos, mas em um cumbuca funda e grande, o C A O S, e prepare-se para beber novas idéias, nossa geladeira está cheia delas. Tente saborear minhas palavras e sinta o êxtase da continua mudança. Perceba o movimento dos objetos, atenção, eles agora já estão se mexendo. Perceba, meu caro, a eterna mutação, nada esta no seu lugar e você faz parte de tudo isso. Dê risadas, gargalhadas, coloque o óculos e desvende o grande mistério. Plantas estão crescendo, pessoas morrendo, nascendo, respirando, espirando, transpirando... repito, você faz parte de tudo isso.

Nossa casa está sempre aberta a visitação, pois não serei hipócrita e fazer das paredes escudos da nossa sujeira e da preguiça, mas farei delas lentes de aumento da nossa consciência e sobretudo de nossa inconsciência. O convite está feito. Se tiver coragem, volte sempre.

Hellfrick

Tuesday, April 11, 2006

O Sofrer do Pensar - por Nelson

Procuro não pensar em você.
Penso então na situação do País e me desespero. Vejo ratos a trafegarem pelos corredores do Planalto.
Então, penso em você e sofro.
Volto a pensar na situação do País e vejo camundongos flanelados com a estampa da nossa fauna os cobrindo do frio de inverno. A dor me faz parar.
Penso em você e choro.
De novo com o País na cabeça me estreito para passar por entre portas largas. A clareira anuncia que nossa mata vai acabar isonerada pela ganância e corrupção dos fortes.
Penso em você novamente, a dor dói, então paro.
A mentira, o cinismo, a farta autoridade de manipular os membros da “Corte” me fazem ir ao desespero. Políticos alcoolizados de dinheiro, o arroto seria apenas o troco, já o bafo, não há condenação para quem o têm. Ha! A cefaléia me coroe os miolos, não posso continuar a pensar.
Em ti eu penso e a saudade me faz parar.
Tráficos, esmolas entre os becos urbanos, saques incessantemente, sexo sem rock’noll. Enquanto isso, o governo nos governa. Eu desisto!
Me lembro de você e dos dias felizes que vi passarem. Ecos de suas vozes me tormentam, e paro.
Já não é mais só o meu País, o globo foi contaminado, “vou aterrorizar, vou roubar e matar,” esse é o pensamento de um cidadão bãozinho. Mais se eu for eleito...
Penso em você vinte e cinco horas por dia, mas você não pensa em min. Sim, eu sei.
Pra que pensar no País? Pra que pensar em você, se ambos me fazem tão mal!?
A dignidade de um homem consiste em defender sua Pátria e lutar para que ela se desenvolva tal qual gostaríamos que fosse, como se fosse nossa cria, por menos nobre que ela nos seja, por menos justa, por menos leal e fiel, por isso, eis a sina de eu pensar em minha Nação e sofrer.
Pensar em ti é a sustentação de minh’alma, a absolvição dos meus erros, é uma alegria constante, é querer tudo que se quer em apenas numa mulher, viajar o mundo sem sair do meu berço, ter os dias mais perfeitos se não fosse só por pensar. Pensar em você é preciso, pensar e sofrer, sofrer é pensar.

É a primeira contribuição de Nelson (nelsaofs@ig.com.br) para o euself. Espero que não seja a última seu safado. Grande abraço. Hellfrick.