Saturday, June 30, 2007

toda sexta

E de repente é o fim da semana “útil” e a sexta-feira vai se esvaziando do clima de escritório se enchendo com os ares de fim-de-semana. Eu, como de costume, um pouco febril neste horário, caminho apressando entre carros, mendigos, pessoas, merdas de mendigo, desviando como se fossem obstáculos. Os pensamentos adquirem um peso e eu pareço estar carregando uma tonelada no pescoço. Mas hoje eu me sinto diferente, mais distraído e um pouco sonolento. O fluxo mental está a mil por hora. Sinto vontade de chorar e no minuto seguinte, estou a sorrir sinceramente para moça do caixa na padaria. Estou louco pra chegar em casa e deitar um pouco e quem sabe cochilar antes de comer.

Deito na cama de tênis mesmo. Estou no meio do caminho entre dormir e estar consciente. Poderia dizer que eu estou subconsciente? A TV e o transito estão mudos e sinto até um prazer nisso. Mas dura pouco, porque acabo de ser ejaculado no meio de um corredor, largo e longo e branco. Não me parecia ser um daqueles sonhos que a gente se vê de cima. Minha visão esta na “primeira pessoa”. Tenho a sensação de estar perdido, conheço bem este sentimento. Decido seguir em frente no corredor apesar de não visualizar seu fim. Estou muito confuso. O silencio incomoda. Alguém escreveu conselhos na parede e começo a ler todos. Vejo cabines de vidros com pessoas dentro. Elas estão querendo me dizer alguma coisa. Uns se esforçam para que eu entenda, mas eu não os ouço. Outros estão mais exaltados, não se conformam com o fato de eu não poder ouvi-los. Tem gente até chorando. São pessoas conhecidas, amigos, parentes, namorada. Começo a esmurrar uma das cabines de vidro, sem resultado. Nem mesmo o barulho dos socos é possível ouvir. Sinto uma tristeza muito grande e uma solidão enorme assume meu peito e sinto lágrimas emergindo parecendo vidros. Sigo lendo os conselhos escritos na parede. Acabo de ler um bem estranho: da próxima vez o corredor será mais longo.

Abro os olhos e sinto um vento frio da janela do meu quarto. Esta começando o Jornal Nacional e o barulho da rua está cada dia pior. Felizes são os que conseguem sonhar nesta cidade. Dou um sorriso e saio da cama.